sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Delírios


Delírios

Era noite fria...
Passeava, estranhamente em silêncio, por entre vãos de tantas palavras duras
Procurava, nas entrelinhas, encontrar partes de um romance inacabável...
Bebia, sofrêga, tuas letras, sugando todas as vírgulas, culpava entre aspas,
Lambia os pontos.
E era no silêncio que nos ouvíamos, tateávamos o passado...
Insistíamos no presente, nosso.

Percorria, com os olhos, tua pele que cheirava invasão
Apressada escorregava as mãos em você, provocando arrepios, 
esfregando silabas apaixonadas...
Beijava teu hábito, salgado e denso, sussurrando desejo e malícia.
Era quase um ataque de emoções que sangravam dor e tesão...
( E você correspondia, rouco, apressado, insano)

Era noite vazia...
Entregue, mordia tua voz
Enxugava, com o meu, teu corpo, coberto de versos úmidos
Rasgava-me em poemas devassos feitos na nossa saudade...
Nua, tentava colar os cacos de um amor de silêncios.

A tempestade lá fora, estremecia janelas e nossos corpos...
Era o único barulho que ouvíamos...sentíamos estremecer os pêlos
Estávamos nus, em pele, em palavras, cobertos de receios.
Sentíamos um aperto nas palavras, um sufocante encontro de vírgulas
Contaminávamos todos os versos, apaixonados, com desejos e segredos
Despíamos dores...
Umedecíamos pele...
Éramos corpos insanos...em delírio.

Em desassossego, nos entregávamos, nos molhávamos
Invadíamos, agora sem a nossa pressa, um ao outro.
Lambíamos o cheiro, sugávamos o mel...
Vivíamos.

E foi assim, que dormimos o tempo.
Respiramos poemas em segredos...
E adormecemos, devagar e febris.


Ana €!¡sa
 14-09-2012
18h25